segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O PAI NOSSO

Mt. 6.9-15


OBJETIVO: Ensinar que dependemos do Pai em todas as coisas.

INTRODUÇÃO: A oração do Pai nosso, longe de ser uma reza repetitiva e mecânica nos é oferecida como o modelo da mais perfeita oração.

CONTEXTO: O Sermão do Monte foi pregado por Jesus na primavera do ano 28, após Jesus ter passado uma noite em oração (Lc. 6.12) e chamado os seus discípulos.
Conforme Mateus e Lucas tem-se a impressão de que todos esses ditos contidos no Sermão do Monte, foram pronunciados de uma só vez e constituem um só sermão.
A narrativa de Mateus é mais de três vezes mais extensa que a de Lucas, por que Mateus tinha como objetivo alcançar os judeus com o seu evangelho. Por isso Ele inclui vários temas que eram de especial interesse para os seus leitores judeus a quem ele tentava alcançar para Cristo.
Lucas por não estar escrevendo primariamente para os judeus, omite esses temas.

TRANSIÇÃO: Conforme John Stott em seu livro Contracultura Cristã: ‘É comparativamente fácil repetir as palavras da oração do Pai-Nosso como se fôssemos papagaios (ou como "palradores" pagãos). Contudo, fazer esta oração com sinceridade tem implicações revolucionárias, pois expressam as prioridades do cristão’ .

I – ORAR O PAI NOSSO É ESTAR INCLUSO NA FAMÍLIA DE DEUS.

1. Nos versos anteriores o Senhor Jesus apresenta os erros comuns na oração numa perspectiva pagã.

2. O Deus verdadeiro é aqui contrastado os caprichosos deuses dos pagãos que precisavam ficar cansados com as repetições de seus seguidores antes de responder.

3. Os judeus se declaravam exclusivistas no que tange a paternidade de Deus, excluído e rechaçando ao desprezo qualquer outra pessoa que não judeus.

4. Cristo nos ensina a orar com a compreensão de que todos os que estão nele (em Cristo) são filhos do Altíssimo.
4.1 – Jo. 1.12 (NTLH) ‘Porém alguns creram nele e o receberam, e a estes ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus’.

5. Orar ‘Pai nosso’ nos arremete a um nivelamento com todos quantos professam a fé em Cristo Jesus, para não corrermos o risco do exclusivismo, alijando pessoas e nos colocando em posição superior a outros que também foram comprados com o mesmo sangue de Cristo.

II – ORAR O PAI NOSSO É BUSCAR A GLÓRIA DE DEUS.

1. Os três primeiros pedidos na oração do Pai-Nosso expressam a preocupação com a glória de Deus:
1.1 – ‘Santificado seja o Teu nome’.
a) Deus já é santo em sua essência e não podemos torná-lo mais santo.
b) Aqui está em foco a glória de Deus entre os homens, de tal forma que o caráter santo de Deus seja reconhecido e respeitado entre os homens assim como já acontece nos céus.
1.2 – ‘Venha o teu Reino’.
a) A Igreja em todos os tempos tem confundido o conceito de Reino de Deus com a temporalidade ou espacialidade da denominação.
b) O Reino de Deus é mais que a Igreja local, é mais que a denominação nacional, é mais que todo o cristianismo existente sobre a face da terra.
c) É o governo de Deus sobre todo o universo, especialmente manifestado no coração do homem regenerado em Cristo.
d) ‘Orar que o seu reino venha é orar que ele cresça à medida que as pessoas se submetam a Jesus através do testemunho da Igreja, e que logo ele seja consumado com a volta de Jesus em glória para assumir o seu poder e o seu reino’(John Stott) .
1.3 – ‘Faça-se a Tua vontade’.
a) A vontade de Deus é perfeitamente obedecida nos céus.
• Sl. 103.19-22 ‘O Senhor estabeleceu o seu trono nos céus, e o seu reino domina sobre tudo. Bendizei ao Senhor, vós anjos seus, poderosos em força, que cumpris as suas ordens, obedecendo à voz da sua palavra! Bendizei ao Senhor, vós todos os seus exércitos, vós ministros seus, que executais a sua vontade! Bendizei ao Senhor, vós todas as suas obras, em todos os lugares do seu domínio! Bendizei, ó minha alma ao Senhor!’.
b) A vontade de Deus obedecida na terra como nos céus eleva a vida terrena e transforma os homens.

2. O céu é a figura do perfeito, o padrão perfeito daquilo que precisa ser feito.

III – ORAR O PAI NOSSO É RECONHECER A DEPENDÊNCIA DE DEUS.

1. Orar o Pai Nosso é reconhecer nossa dependência de Deus quanto às questões de nossa sobrevivência.
1.1 – As Escrituras nos ensinam que temos que trabalhar e comer nosso pão com o suor do rosto.
a) Gn. 3.19 ‘Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás’.
1.2 – Ao mesmo tempo é preciso depender de Deus a cada momento sabendo que virá de suas mãos graciosas a provisão para a vida.
a) Mt. 6.11 ‘... o pão nosso de cada dia nos dá hoje’.
b) Normalmente o significado da palavra traduzida como diário, (ἐπιούσιος), é obscuro. A palavra é uma hápax legómena, ocorrendo somente nas versões de Lucas e Mateus do Pai nosso. Pão diário parece ser uma referência a passagem de onde Deus provia maná aos israelitas a cada dia, enquanto eles estavam no deserto como em (Êx. 16:15–21). Já que eles não podiam manter qualquer maná durante a noite, tiveram que depender de Deus para fornecer um novo maná a cada manhã. Etimologicamente epiousios parece estar relacionado com as palavras gregas epi, significando sobre, acima, em, contra e ousia, que significa substância. Epiousios também pode ser entendida como a existência, ou seja, o pão que foi fundamental para a sobrevivência (como a Peshita siríaca onde a linha é traduzida por "dar-nos o pão do que temos necessidade hoje") .
c) Sl. 127.2 ‘Será inútil levantar cedo e dormir tarde, trabalhando arduamente por alimento. O Senhor concede o sono àqueles a quem ele ama’.
d) Mt. 6.25 ‘Portanto eu lhes digo: Não se preocupem com sua própria vida, quanto ao que comer ou beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante que a comida, e o corpo mais importante que a roupa?’.
1.3 – A vocação sempre é de Deus, mas o trabalho é nosso, sabedores de que Deus dará o necessário aos seus.

2. Orar o Pai Nosso é reconhecer nossa dependência de Deus quanto à realidade do perdão de Deus em nós.
2.1 – As Escrituras afirmam que ninguém pode permanecer sem culpa diante da justiça e da santidade de Deus.
a) Sl. 130.3-4 ‘Se tu, Soberano Senhor, registrasses os pecados, quem escaparia? Mas contigo está o perdão para que sejas temido’.
2.2 – Necessitamos do perdão de Deus pelos nossos pecados.
a) Mt. 6.12 ‘Perdoa as nossas dívidas’.
2.3 – O perdão de Deus aplicado a nós é o que nos capacita a perdoar os que nos ofendem.
a) Mt. 6.12 ‘... assim como nós temos perdoado aos nossos devedores’.
b) Mt. 6.14-15 ‘Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas’.

3. Orar o Pai Nosso é reconhecer nossa dependência de Deus quanto à vitória sobre o pecado e o Mal.
3.1 – Mt. 6.13 ‘E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém’.
3.2 – A palavra tentação (Πειρασμόν) pode significar ‘tentação’ ou ‘provação’.
a) O cerne da questão é não cair.
b) Esse é o rigor da sétima petição do Pai Nosso.
3.3 – O termo Mal neste texto (Πονηρού) pode ser masculino ou neutro, no grego, e pode significar o mal de modo geral (tentações de vários tipos, más condições de vida, sofrimentos diversos, etc), ou pode pontar para o significado de Malígno, Satanás.

4. Dependemos de Deus para a libertação do mal que cerca e nos aflige.

IV – ORAR O PAI NOSSO É SE CURVAR À GLÓRIA EXCELSA DE DEUS.

1. O Senhor Jesus conclui a Oração com o reconhecimento de que nossas petições se curvam diante da glória de Deus.
1.1 – Mt. 6.13 ‘Porque teu é o reino e o poder, e a glória, para sempre, Amém’.

2. Para o cristão, tudo o que se pedir em oração deve derivar da e convergir para a glória de Deus.
2.1 – Mt. 6.13 ‘Porque teu é o reino e o poder, e a glória, para sempre, Amém’.

3. Orar de modo que sejamos tidos como palradores frívolos, meros repetidores tal qual papagaios, é voltarmos ao paganismo condenado por Jesus nos versículos que precedem esta oração.
3.1 – Mt. 6.5, 7 ‘E, quando orardes, não sejais como os hipócritas; pois gostam de orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque pensam que pelo seu muito falar serão ouvidos’.

4. A oração correta e verdadeira busca a glória de Deus.

CONCLUSÃO: Concluo com as palavras de Stott: ‘Quando nos tivermos dado ao trabalho de gastar algum tempo orientando-nos na direção de Deus, lembrando-nos do que Deus é: nosso Pai pessoal, amoroso e poderoso; então o conteúdo de nossas orações será radicalmente afetado de duas formas. Primeiro, os interesses de Deus terão prioridade (teu nome..., teu reino..., tua vontade). Segundo, nossas próprias necessidades, embora colocadas em segundo plano, serão totalmente entregues a ele (Dá-nos..., perdoa-nos..., livra-nos...). Todos sabem que a oração do Pai-Nosso, nessas duas partes, está preocupada em primeiro lugar com a glória de Deus e, depois, com as necessidades do homem’ .

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