domingo, 27 de fevereiro de 2011

A MINHA GRAÇA TE BASTA

II Co. 12.7-10


OBJETIVO: Ensinar que a graça de Deus é suficiente em todas as áreas na vida do cristão.


INTRODUÇÃO: Tribulações podem ser espinhos santos para nos curar.


CONTEXTO: Paulo está escrevendo sua segunda carta aos Coríntios e defendendo seu apostolado, uma vez que muitos o atacavam com acusações de que nem mesmo era apóstolo.
Para apresentar as insígnias de apóstolo, Paulo aborda o fato de que teve privilégios especiais no que respeita a revelações e experiências que nem mesmo lhe foi permitido narrar.
Apesar destes grandes privilégios, Paulo tinha algo que o incomodava, algo que ele chama de ‘espinho na carne’.
Pediu a Deus que o removesse, mas a resposta que lhe foi dada foi: ‘Minha graça te basta’.


TRANSIÇÃO: Até onde nossas inquietações nos incomodam a ponto de pedirmos a Deus que no-las tire? Até onde aceitamos o fato de que a graça de Deus nos basta? Quero compartilhar nesta oportunidade sobre o tema: A MINHA GRAÇA TE BASTA.



I – A EXPERIÊNCIA DO SOFRIMENTO É INEVITÁVEL.

a – A origem do mal existencial e do sofrimento.

1. A intenção não é abrir aqui uma digressão filosófica a cerca do mal enquanto personalidade ou força operante, mas apenas apontar o conceito teológico de que a Queda é a grande responsável pela existência de todo tipo de desequilíbrio.

2. As Santas Escrituras apontam para o pecado como o fator gerador da morte e morte em todos os tipos e possibilidades na existência humana.
2.1 – ‘Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram’.

b – Todo ser humano passa pela dor do sofrimento.

1. A partir do nascimento cada ser humano já experimenta a angústia da dor e do sofrimento.

2. É inevitável. Em menor ou menor proporção todos passamos pelo sofrimento.

3. Grandes sofrimentos nem todos experimentam, mas quanto maior for a existência, maiores poderão ser as dores e sofrimentos porque passamos.

c – Possibilidades do ‘espinho na carne’ de Paulo.

1. Tertuliano de Cartago, África (155-222 d.C), o mais vigoroso e intransigente dos primeiros apologista cristão, atribuiu o ‘espinho’ de Paulo a fortes dores de cabeça.

2. João Crisóstomo, que viveu no terceiro século (347-407 d.C) em Antioquia da Síria e Jerônimo, da Dalmácia (342-420 d.C), acreditavam que o ‘espinho’ que maltratava o apóstolo eram também dores de cabeça.

3. Martinho Lutero, o reformador (1483), pensava que o ‘espinho na carne’ do apóstolo era por causa das constantes perseguições, especialmente dos judeus que Paulo tanto amava.
a) Rm 9:3 ‘Porque eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne’.

4. Joseph B. Lightfoot (1828-1889), de Liverpool na Inglaterra, um dos revisores da Bíblia King James Version, uns dos melhores eruditos do século XIX, referia-se ao ‘espinho’ do apostolo Paulo a uma oftalmia, que possivelmente, deveria ser consequência do próprio incidente do Caminho de Damasco.
4.1 – Uma indicação de provável complicação com os olhos:
a) Gl. 4.15 ‘Que aconteceu com a alegria de vocês? Tenho certeza que, se fosse possível, vocês teriam arrancado os próprios olhos para dá-los a mim’.
b) Gl. 6.11 ‘Vejam com que letras grandes estou lhes escrevendo de próprio punho!’.

5. A palavra original que se traduz por ‘fraqueza’ – ασθενεια (astheneia), tem aplicação física e moral.
5.1 – Para os Teólogos gregos, o ‘espinho’ referido no texto, eram os inimigos de Paulo.
5.2 – Para os Teólogos latinos atrás da metáfora paulina estavam as tentações afeitas ao sexo forte, exercendo pressão na consciência do apostolo.
5.3 – Alas reformistas da igreja norte-americana sustentam de forma aberrante que Paulo poderia ser homossexual.
5.4 – Outros entendiam que nada mais era do que o gênio intempestivo de Paulo, que o feria fazendo sofrer. ‘Quem sabe essa observação é por causa do temperamento colérico de Paulo, que geralmente essas pessoas são autossuficientes, impetuoso, genioso e tem uma tendência á aspereza e até mesmo á crueldade. Ninguém é tão mordaz e sarcástico quanto o colérico. Essa seria uma séria deficiência emocional do colérico’.
5.5 – Outros atribuem o ‘espinho’ a uma epilepsia ou a febre malária que Paulo provavelmente teria contraído nas regiões insalubres da província romana da Ásia.

II – A INACEITÁVEL ANGÚSTIA DO SOFRIMENTO.

a – A reação normal diante do sofrimento é rejeitá-lo.

1. Mesmo havendo quem veja alguma espécie de prazer no sofrimento (próprio ou de outros) como os sádicos ou os masoquistas, tal conduta é sempre vista e entendida como um desequilíbrio e aberração.

2. Qual sua reação natural diante da dor?
2.1 – Se é dor física procurará um remédio ou tratamento.
2.2 – Se é psicológica procurará um psicólogo que o ajude.
2.3 – Se é espiritual procurará o auxílio de Deus.

3. O sofrimento seja ele da espécie que for não é bem vindo à experiência humana; por isso qualquer pessoa em sã consciência diante do sofrimento procura uma maneira de se esquivar do mesmo.

b – A rejeição de Paulo diante do espinho na carne.

1. Com Paulo não poderia ser diferente; pois ao perceber a presença deste ‘espinho na carne’ clamou ao Senhor por três vezes para que o livrasse dessa dor.

2. O apóstolo afirma que por três vezes pediu para que o Senhor o livrasse desse ‘espinho’.
2.1 – II Co. 12.8 ‘Três vezes roguei ao Senhor que o tirasse de mim’.

III – A SUFICIÊNCIA DA GRAÇA DE DEUS.

a – Propósitos de Deus com o ‘espinho na carne’ de Paulo.

1. Corrigir o orgulho de Paulo.
1.1 – II Co. 12. 7 ‘... para que me não exaltasse pelas excelências das revelações ...’.
1.2 – A extraordinária grandeza da revelação que Paulo esteve exposto poderia gerar nele um espírito soberbo.
1.3 – Todo pecado é egoísmo, o orgulho é a exaltação do ego, o qual se delicia com o pensamento de ser superior a todos os semelhantes.

2. Produzir humildade em Paulo.
2.1 – Deus revelou coisas a respeito de si mesmo, algumas quais ele foi proibido de revelar, as outras ele deveria comunicar através das epistolas.
a) II Co. 12.4 ‘foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não são licito ao homem referir’.
b) A palavra grega para ‘inefável’, de uso comum nas religiões, é αρρητος (arrhetos) aquilo que é inexprimível, o que não pode ser expressado (por causa de sua santidade), só aparece aqui em todo o NT.
2.2 – II Co. 12.8-9 ‘... Cerca do quais três vezes orei ao Senhor para que desviasse de mim. E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade pois me gloriarei nas minhas fraquezas para que em mim habite o poder de Cristo’.
2.3 – A palavra humildade no NT significa:
a) No grego: ταπεινος (tapeinos) = ‘abaixado’; ‘trazido para baixo’; ‘trazer para terra’.
b) No latim: ‘húmus’ = terra.
c) A humildade é a consciência das nossas fraquezas e das nossas dependências, e nos fazer saber que somos pó, terra, em outras palavras, não somos nada.

3. Gerar dependência de Deus em Paulo.
3.1 – O ‘espinho na carne’ produzia em Paulo uma dependência de Deus, constante e consciente.
3.2 – Paulo sabia que não podia realizar coisa alguma sozinho, tinha mesmo que depender de Deus.
a) Descobriu que seu sofrimento o resguardou do orgulho.
b) Deixou-o mais humilde e mostrou-se que Deus era suficiente, fazendo-o dependente Dele.
3.3 – O texto é bem claro o anjo, veio: ‘para me esbofetear’ (II Co. 12 7).
a) A palavra esbofetear no grego κολαφιζω (kolaphizo), significa: ‘dar bofetada após bofetada’, ‘dar em alguém soco com o punho fechado’, ‘controlar’, ‘reprimir’, ‘punir’, ‘castigar’.
3.4 – Paulo refere-se a alguma experiência muito dolorosa, que não especifica, mas que chama de ‘espinho na carne’.

4. Ensinar a Paulo a suficiência da graça de Deus.
4.1 – Graça aparece 155 vezes no NT, e nas epistolas de Paulo 100 vezes.
4.2 – O termo grego para graça em o Novo Testamento é χαρις (charis) usado para graciosidade, amabilidade, favor.
4.3 – Mesmo que o espinho tenha causado sofrimento em Paulo, em ultima instância, serviu para um bom propósito, revelar a graça de Deus.
4.4 – ‘Graça significa que não há nada que possamos fazer para Deus nos amar mais, nenhuma quantidade de renuncia, nenhuma quantidade de conhecimento recebido em seminários e faculdades de teologia, nenhuma revelação ou quaisquer outras coisas, Deus já nos ama tanto quanto é possível um Deus infinito nos amar’ (Philip Yancey – ‘Maravilhosa Graça’).


CONCLUSÃO: Cada cristão sincero tem um espinho; causando uma situação desagradável, impedindo certa realização e até mesmo impossibilitando nosso avanço em algumas áreas.

Logicamente esse espinho redundará em benefícios, mesmo sendo desagradável e inconveniente.

A intenção de Deus em relação ao seu povo é a mesma que teve com o apostolo Paulo: evitar gloriar-se a si mesmo ao invés de gloriar-se no Senhor, que concede tal privilégio.

Não importa a origem do espinho. Uma coisa é certa, ele tem um propósito definido no plano de Deus.

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