quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Dom de Variedade de Línguas


Rev. Emiliano

Introdução

Não se pretende aqui um estudo exaustivo, contudo, mais próximo ao devocional, no intuito de oferecer acessibilidade às ovelhas sob meu pastoreio.
Segundo o conceito Bíblico, o verdadeiro dom é a faculdade sobrenatural de falar em línguas estrangeiras [das nações] sem tê-las aprendido (I Co 14:11, 21). Consiste, portanto, em se expressar em uma ou mais línguas, peculiares às nações daqui da terra.

Conceituação

Conforme Ernesto Bozzano, pesquisador da metapsíquica, informa, na Introdução de seu livro Xenoglossia, que o termo foi criado pelo fisiologista Charles Robert Richet para identificar o fenômeno no qual pessoas falam em línguas que eles e, geralmente, o público presente ignoram, porém que se tratam de línguas existentes hoje ou que existiram no passado. A necessidade de criação do termo foi devida ao termo Glossolalia, então já existente, não ter a restrição de a língua falada ou escrita no fenômeno observado ser uma língua real, existente hoje ou no passado . Define-se aqui, de modo sucinto os dois termos: Xenoglossia é a capacidade sobrenatural de se falar línguas estrangeiras desconhecidas; enquanto que Glossolalia é a faculdade de se pronunciar linguagem ininteligível, em sons inarticulados e desconexos. Na Bíblia o primeiro fenômeno, a Xenoglossia, é conhecida e demonstrada nos livros de Atos e Coríntios.
Vê-se a luz de sérios estudos que a Glossolalia é falada por Pentecostais; Protestantes; Católicos Carismáticos também buscam e pratica a glossolalia; os Mórmons, também falam línguas estranhas. Joseph Smith, o fundador, ensinava os seus seguidores a ‘falar em línguas’. A Glossolalia também aparece entre religiões não cristãs: A profetiza de Delphi, perto de Corinto, falava línguas no século I e, conforme Plutarco, havia intérpretes presentes para explicar as suas palavras incoerentes; nas religiões pagãs de vários países da África, as línguas estranhas são comuns; a mesma coisa acontece na Groenlândia, bem como no Haiti e outros países ocidentais; no Budismo, no Xintoísmo, e entre os seguidores de Maomé, há línguas; no Espiritismo, tão popular no Brasil, também aparecem línguas estranhas. Verifica-se, portanto, que ‘falar em línguas’ não é coisa exclusivamente cristã; é comum a quase todas as religiões do mundo. Pode-se ir mais longe ainda e afirmar que não está limitado à religião; aparece muitas vezes em certas doenças de origem nervosa. Se isto é o dom do Espírito Santo, como explicar sua aparição em seitas heréticas ou religiões não cristãs?

Fundamentação Pentecostal genéria

Em algumas edições da Bíblia Sagrada na versão Almeida, usou-se inadequadamente o termo ‘língua estranha’. O termo vem grafado em itálico, significando que o mesmo não se acha no texto original (grego). Nas versões mais recentes a expressão foi corrigida para ‘outras línguas’ (Atos 2:1-13; I Co 12:10, 28; 14:6-11, 18, 21).
Os pentecostais insistem que as línguas se referem a um tipo de idioma do céu, supostamente a língua dos anjos. O único texto no qual baseiam sua teoria é a passagem de 1 Coríntios 13.1: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine”. Simon Kistemaker, profundo conhecedor dos originais, afirma ‘não sabemos que linguagem sobrenatural os anjos falam'. John MacArthur Jr., ensina diz que Paulo ‘estava usando uma hipérbole – um exagero – a fim de ressaltar um fato’. Em toda a Bíblia, sempre que os anjos aparecem falando, eles se comunicam com as pessoas em termos humanos (Gn. 16.9-11; Nm. 22.32, 35; 1 Re. 13.18; 19.5, 7; Is. 6.3; Zc. 1.12-19; Mt. 1.20; 2.13, 19-20; 28.5; Lc. 1.11-13; At. 1.10, 11).
A fundamentação pentecostal é insustentável. É inconsistente a afirmação de que o moderno ‘dom de línguas’ seja a elocução de idiomas angelicais. Ao contrário, os adeptos dos citados movimentos entendem que o dom de língua consiste no balbuciar desconexo de uma espécie de palavras e sons incoerentes e sem sentido, proferidas em estado de êxtase espiritual, como se fossem línguas estranhas, misteriosas e completamente desconhecidas pelos homens, somente inteligíveis, segundo eles, por quem esteja carismaticamente preparado para sua interpretação.
Após minuciosos e exaustivos estudos realizados sobre gravações dessa fala atabalhoada, eruditos linguísticos chegaram à conclusão que ela não tem qualquer base de linguagem, pois não apresentam nenhuma estrutura ou regra gramatical, características de um idioma. Por conseguinte, as chamadas ‘línguas estranhas’ apregoadas pelos modernos glossolalistas como sendo línguas desconhecidas (língua dos anjos), são apenas uma forma de ‘fala extática’, formada pela emissão confusa e repetida de sílabas e sons em estado de êxtase, porém totalmente desconexos e ininteligíveis (I Co 14:9). Muitas vezes esses fenômenos são acompanhados de gritos, piados, grunhidos, uivos, batidas de pé, tremores, convulsões e outras manifestações físicas anormais e completamente descontroladas, que também não se harmonizam com as normas bíblicas de decência, ordem e auto-controle (I Co 14:28, 30, 32, 33, 40; Gl 5:22, 23).

Doutrina Presbiteriana reformada

A Igreja Presbiteriana do Brasil em sua Carta Pastoral, ressalta: ‘Os versos de At 2.6,8,11. Estes versículos se referem às línguas maternas dos que as ouviram naquela ocasião, das quais quatorze são citadas por Lucas. Portanto, fica claro que eram línguas estrangeiras, e não ‘estranhas’. A expressão ‘línguas maternas’ em At 2.8, literalmente, th idia dialektw hmwn en egennhqhmen, ‘no nosso próprio dialeto em que fomos nascidos’, reforça este ponto. O uso de (heteros) eterov, ‘outras’ por Lucas em At 2.4 (‘começaram a falar noutras línguas’) não fornece apoio decisivo para a sugestão de que as línguas faladas em Pentecoste eram de um gênero diferente, e que, portanto, não eram idiomas humanos. O adjetivo (heteros) eterov, ‘outro’ frequentemente expressa a ideia de um outro item de uma mesma série, sem a conotação de que se trata de algo diferente em sua essência. Por exemplo, ‘do outro barco’ (Lc 5.7), ‘outro dos discípulos’ (Mt 8.21), ‘outra (passagem da) Escritura’ (Jo 19.37)’. Estes argumentos, se tomados juntamente com o precedente em Atos, constituem-se em indício importante de que as línguas mencionadas em Corinto e no resto do Novo Testamento são um único e mesmo fenômeno. Em nenhum lugar a Escritura fala de dois dons de línguas distintos, e nem existem indícios inegáveis nas mesmas que nos obriguem a crer na existência de dois fenômenos distintos.
Segundo as Escrituras Sagradas, os dons espirituais, inclusive o de línguas, são dados por Jesus espontaneamente, a cada um como Ele quer e para o que for útil à Igreja, segundo a sua soberana vontade e seus propósitos e não segundo o desejo do homem (I Co 12:7-11, 18, 28-31 ; Ef 4:8, 11). Ele dispõe os membros do Seu Corpo - a Sua Igreja - de forma conveniente, como lhe apraz, dotando-os com dons espirituais que se fizerem necessários para o perfeito e harmonioso funcionamento de todo o organismo (I Co 12:11-13; Rm 12:4-8; Ef 4:3-6).
O que encontramos em Atos 2 é o fenômeno da ‘xenoglossia’, que é a capacidade de falar línguas estrangeiras desconhecidas. Assim registra o Dr. Lucas: ‘Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem... E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?... tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?’ (At. 2. 4, 8, 11). Nestes versículos, duas palavras intercambiáveis são usadas para traduzir ‘línguas’: ‘glossa’ (glossa) e ‘dialeto’ (dialektw). A palavra ‘glossa’ (glossa) diz respeito a ‘língua, discurso, conversa, idioma, linguagem, linguagem não familiar, nação, definida por sua linguagem ou idioma’. Simon Kistemaker diz que, ‘a palavra língua equivale ao conceito de idioma falado’. Já o termo ‘dialetos’ (dialektw) significa ‘discurso, maneira de falar, linguagem peculiar de uma nação, dialeto, idioma vernáculo’. Kistemaker sobre esse termo afirma:
A língua é o veículo de comunicação que, para cada pessoa, é a sua língua materna. Quando os estrangeiros residentes em Jerusalém ouvem o idioma que aprenderam no país onde nasceram e foram criados, eles ficam completamente pasmos. As barreiras linguísticas que embaraçam a comunicação eficaz são removidas quando o Espírito Santo capacita os crentes a transmitirem a revelação de Deus em vários idiomas.
Os modernos pentecostais procuram avidamente falar nas chamadas ‘línguas estranhas’ persuadidos por falsos conceitos a esse respeito, tomando a iniciativa para alcançar essa tão almejada experiência espiritual, chegando até a formular instruções e recomendar métodos de auto-sugestão para facilitar a sua realização, contrariando assim os critérios bíblicos.
Deus criou o homem com inteligência e certamente só aceitará a sua adoração e o seu louvor quando prestado espontaneamente, no pleno domínio de suas faculdades mentais, e não ‘fora de si’ em estado de histeria, hipnose ou êxtase espiritual, dirigido por forças ou poderes estranhos, sem saber o que faz ou o que diz.
As línguas faladas no dia de Pentecostes eram idiomas humanos estrangeiros. Não eram idiomas angelicais, nem expressões estáticas sem sentido.
Segundo o conceito pentecostal, aquele que estiver falando em ‘línguas estranhas’, a sua mente, seu intelecto e sua compreensão permanecem aquiescentes, em estado de transe, sem entender [ou saber] o que está dizendo ou fazendo, sob o domínio de ‘uma força estranha’, à semelhança de um ‘médium espírita’ (esperando, talvez, que mais tarde um irmão lhe diga o que aconteceu).
Sempre ligado ao dom de línguas, está o dom de ‘interpretação de línguas’ (I Co 12:10, 30; 14:5, 26, 28), que é a capacidade divinamente dada de traduzir para o idioma da congregação o que fora dito em idioma estrangeiro (I Co. 14:9-11).
As Escrituras Sagradas proíbe que se fale em outra língua na congregação, se não houver um intérprete presente (I Co. 14:28), pois ninguém entenderia o que se dissesse, consequentemente, a ordem ‘não proibais’ do versículo 39 está sujeita à condição anteriormente estabelecida no versículo 28. É evidente que não há necessidade de intérprete quando se fala em idioma estrangeiro, porém peculiar aos ouvintes, pois todos o entenderiam. Isto é como se eu, falando o português, estivesse participando de um culto na Inglaterra, por exemplo!
Em experiências realizadas por estudiosos desses fenômenos, foi constatado que a mesma fala extática teve interpretações diferentes, o que invalida a sua autenticidade.
O regulamento Bíblico que diz: ‘não havendo intérprete, fique calado na igreja’, (I Co 14:28), indicando que o genuíno dom de línguas é controlável pela pessoa que o possui, pois só o exerce em plena consciência, no momento oportuno e quando tem conhecimento que há um intérprete presente capaz de traduzir as suas palavras para o idioma compreensível pela congregação.
O movimento moderno de línguas tem violado continuamente esse regulamento que é mandamento do Senhor (I Co 14:37). Porquanto a fala extática é ininteligível e, portanto, sem interpretação.
A teoria pentecostal fica mais fragilizada ainda ao se observar que a natureza do dom de línguas exercido em Corinto é a mesma de Atos dos Apóstolos: ‘a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las’. (1 Co. 12.10). O nome do dom – variedade de línguas – aponta para a natureza do dom. Observe-se o seguinte nesse versículo: 1) novamente, a palavra usada para ‘línguas’ é ‘glossa’ (glossa), referente a idiomas; 2) existe uma distinção entre as línguas. O termo ‘variedade’ – ‘genê’ (genh), que significa ‘espécies, variedade, gêneros’. ‘As línguas eram distintas porque eram idiomas falados que podiam ser diferenciados’. Comentando o termo ‘gene’ (genh) o Dr. Brian Schwertley afirma o seguinte: ‘Existem várias famílias de línguas no mundo – semítica, eslava, latina, etc. todas elas têm uma coisa em comum, elas possuem um vocabulário definido e construção gramatical’. Então, conclui-se que Paulo certamente não podia ter misturado línguas estrangeiras conhecidas com expressões desconhecidas e estáticas colocando-as sob uma mesma classificação. Elas simplesmente não têm nenhuma relação entre si’. Assim sendo, literalmente, o versículo 10 de 1 Coríntios 12 diz o seguinte: ‘a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, diferentes variedades de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las’.
Os fenômenos de falar línguas estrangeiras, constantes dos relatos bíblicos, destinam-se a marcar o cumprimento de profecias e da promessa de Jesus aos seus discípulos capacitando-os para poderem disseminar o Evangelho (Jo 14:16, 17, 26; Lc 24:49; I Co 14:21, 22).
As Escrituras Sagradas afirma que todos os salvos foram ‘batizados no Espírito Santo’ (I Co 12:13, Ef 1:13), mas que nem todos falam línguas (I Co 12:30). Há inúmeros exemplos de personagens bíblicos que foram ‘cheios do Espírito Santo’ e não falaram línguas (Sl 51:11; Is 61:1; Mq 3:8; Lc 1:41; 2:25-27; Atos 6:5-8; 11:24; et all). O próprio Jesus não falou em ‘línguas estranhas’. Será que Ele não possuía o Espírito Santo?
As passagens bíblicas referentes ao revestimento, enchimento ou plenitude do Espírito Santo, que devemos almejar continuamente, não indicam a glossolalia como a sua evidência necessária, mas outros resultados e qualidades espirituais que manifestam aquele estado (Ef 5:18-21; 4:11-13; Gl 5:22, 23; I Co 6:11; Atos 4:31; 5:32; Jo 14:16, 17; 16:13).
Nosso argumento de que o termo ‘glossa’ (glossa) se refere a idiomas estrangeiros é apoiado ainda pela palavra grega utilizada por Paulo quando ele diz que ‘línguas’ devem ser interpretadas: ‘a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las’ (1 Co. 12.10); ‘Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro interpretação. Seja tudo feito para edificação... Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus’ (1 Co. 14.26, 28). A palavra hermeneia (ermeneia) significa ‘interpretação’. Quando a palavra hermeneia (ermeneia) não é utilizada para descrever a exposição das Escrituras, ela simplesmente significa ‘traduzir o que foi falado ou escrito em uma língua estrangeira’. Palmer Robertson diz que, ‘as línguas de 1 Coríntios 14 eram traduzíveis, o que se sugere que eram idiomas estrangeiros’.
É provável que algumas dessas manifestações seja de origem psicológica, motivadas pela intensa excitação dos sentimentos, por um ambiente fortemente emotivo, capaz de atuar em maior grau, de acordo com a compleição psíquica de cada indivíduo. Há casos em que essas manifestações são artificiais, simuladas por pessoas que apenas querem acompanhar os outros, por questão de prestígio ou de constrangimento. Há casos também de ingerência, influência ou possessão demoníaca. O crente coloca-se numa posição particularmente vulnerável quando é persuadido a suspender toda a atividade mental e a entregar a sua vontade à uma inteligência invisível, que presume ser o Espírito Santo. O moderno movimento de línguas reflete confusão e ignorância quanto à doutrina bíblica.

Normas de controlabilidade.

Aquilo que não se entende não edifica. A xenoglossia diferentemente da glossolalia, podia ser usada em público para a edificação, pois, sendo fala em línguas estrangeiras, era inteligível ao intérprete e, por este, à Igreja em reunião de adoração. O uso deste dom é regulamentado por Paulo com ordenações mandamentais (I Co l4.37,38).

Privacidade.
Quem possui o dom por ele não se privilegia nas reuniões litúrgicas, mas pode utilizá-lo em sua comunhão privativa com Deus, evitando exibições públicas.

Edificação.
A norma geral para todos os dons carismáticos é a edificação (I Co l4.7,12,25-26). Como o conteúdo edificador do dom de línguas é nulo para a comunidade (I Co l4.4), Paulo evitou usá-la, preferindo falar cinco palavras inteligíveis a pronunciar dez mil ininteligíveis (I Co l4.l8,l9). Esta preferência por orações e comunicações claras, nítidas, compreensivas, tem sido praticada, seguindo a prática paulina, pela Igreja Presbiteriana do Brasil e por outras co-irmãs históricas. Os bons exemplos devem ser imitados.

Interpretação.
A xenoglossia condiciona-se ao dom da interpretação (I Co l4.27) que, neste caso, é superior ao de línguas, no entendimento paulino, pois, sem o intérprete, impunha-se, imperativamente, o silêncio. Isto deixa patente a dispensabilidade do ‘falar em línguas’ nas assembléias litúrgicas.

Controlabilidade.
O dom de línguas é controlável pelo dirigente do culto, que lhe determina a quantidade de manifestações e lhe estabelece a ordem de execução (I Co l4.27 ). Onde não há controle, não há direção divina, pois ‘Deus não é de confusão’ (I Co l4.33). Veja-se I Co. 14.32: ‘Lembrem-se que uma pessoa que tem uma mensagem de Deus, tem a capacidade de conter-se ou de esperar a sua vez (BV). ‘Quem fala deve controlar o dom de anunciar a mensagem de Deus’ (NTLH).
O apóstolo ensina que deve haver a inconcomitância no exercício (I Co. 14.27):
a) Limitação numérica (... dois ou quando muito três).
b) Limitação na ordem (sucessivamente).
c) Limitação no exercício (... haja quem interprete ... senão, fique calado...).

O silêncio das mulheres.
‘Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas’ (I Co l4.34). Notem bem, Paulo não manda a mulher calar-se fora da Igreja, mas nela, nas assembléias litúrgicas. A mulher não foi chamada por Deus para operar nos cerimoniais do culto vetotestamentário, mas isto não impedia que o Espírito Santo se utilizasse dela nos ministérios proféticos externos ao templo. Profetisas foram: Miriã (Ex 25.20), Débora (Jz 4.4), Hulda (II Rs 22. l4) e Ana (Lc 2.36). De igual modo podiam profetizar na implantação da Igreja, na formação do cânon neotestamentário (I Co 11.2 cf At 21.9). Israel não possuía profetisas cúlticas, oraculares, pois excluídas estavam as mulheres da ordem sacerdotal. Os três ofícios fundamentais da Igreja, por decisão divina, são destinados a homens: Apóstolos, profetas e mestres. O Novo Testamento, acompanhando o Velho, não registra ministério feminino de apóstolas, pastoras e presbíteras. Por ser a mulher mais mística que o homem, proibi-la de falar significava reduzir consideravelmente a incidência de línguas extáticas no culto. Com as normas paulinas a glossolalia coríntia ficou contida dentro de limites aceitáveis e subordinada a regras preordenadas, que não são respeitadas hoje pelos glossolálicos modernos.

Conclusão à Luz da Carta Pastoral da IPB

A Igreja Presbiteriana do Brasil promulgou e difundiu para todas as Igrejas uma Carta Pastoral na qual estabelece nossa posição como presbiterianos sobre o assunto em tela. Uma das conclusões apresentadas na Pastoral versa da seguinte forma: ‘Quanto às línguas mencionadas por Paulo na sua primeira carta aos Coríntios, embora sua exata natureza seja de mais difícil interpretação, não há qualquer evidência exegética, teológica, ou histórica, de que fossem diferentes do precedente estabelecido em Atos, ou seja, dos idiomas falados no Pentecoste. Alguns têm apontado para a expressão ‘outras línguas’ que ocorre várias vezes em 1 Co 14, como indício de que se trata de línguas diferentes dos idiomas humanos’.

RECOMENDAÇÕES AOS CONCÍLIOS E IGREJAS

À luz do exposto acima sobre os dons de línguas e profecia, a Igreja Presbiteriana do Brasil, partindo de uma hermenêutica baseada não na experiência individual, mas nos princípios da sua tradição reformada, e sobretudo no entendimento que as Escrituras dão de si mesmas e na busca da iluminação do Espírito, faz as seguintes recomendações aos seus concílios, pastores, oficiais e membros da Igreja:
1. A doutrina do batismo com o Espírito Santo, como uma "segunda bênção" distinta da conversão, não deve ser ensinada e nem propagada pelos pastores ou membros nas comunidades, por ser biblicamente equivocada.
2. Os concílios e igrejas locais devem tratar com amor e paciência os pastores e membros das igrejas presbiterianas que professam ter sido batizados com o Espírito Santo, numa experiência distinta da conversão, e devem pastoreá-los e instruí-los na Escritura e na doutrina reformada, para que sejam corrigidos quanto a este modo de crer, e para que demonstrem o fruto do Espírito, que é o sinal inequívoco de toda atuação verdadeira do Espírito.
3. Todo ensino sobre as línguas e profecias que entende a prática moderna como uma experiência revelatória, isto é, uma experiência na qual nova revelação é recebida, é contrário ao caráter final da revelação bíblica e à autoridade das Escrituras como única regra de fé e prática.
4. Todo ensino sobre as línguas e profecias que entende estes fenômenos como um sinal do batismo com o Espírito é contrário à Escritura, bem como todo ensino que vê as línguas e profecias como sinal de espiritualidade.
5. Toda prática do fenômeno das línguas e de profecias que cause divisão e dissensão dentro do Corpo de Cristo, e que não resulte em instrução e ensino em língua conhecida, é contrária ao propósito dos dons do Espírito, que é a edificação da Igreja.
6. Toda prática do fenômeno das línguas e de profecias que não siga as orientações de 1 Co 14.27-28, é contrária ao ensino bíblico e deve ser rejeitada, constituindo-se em desobediência à vontade revelada de Deus. Ou seja, que falem somente dois, ou no máximo três, cada um por sua vez, e que haja intérprete (depreende-se que Paulo se refere a outra pessoa que não o que falou em línguas).
7. A base para as nossas formulações doutrinárias é a Escritura, e não as experiências individuais — por mais emocionantes e preciosas que elas sejam. Portanto, a Igreja recomenda o estudo sério de todos os fenômenos e experiências, à luz da Palavra da Deus.
8. A Igreja recomenda que os Concílios estudem esta Pastoral e que cultivem o diálogo com a Comissão Permanente de Doutrina.

Soli Deo Glori
Rev. José Emiliano da Cunha


Nenhum comentário: